domingo, 26 de julho de 2009

Sodoma e Gomorra: um mal entendido

Sodoma e Gomorra: a queda
Muitos religiosos (especialmente os conservadores) acreditam que o fato da queda de Sodoma e Gomorra seja a prática de relações sexuais homossexuais. No entanto, estudiosos nos mostram que o pecado cometido foi o da falta de hospitalidade com os estrangeiros e a intenção de estupro, pois para esses religiosos o verbo conhecer significa claramente um abuso sexual. Ou seja, o texto não fala da condenação ao relacionamento homoafetivo, mas sim da condenação ao abuso e a violência.
Segundo a história bíblica, os habitantes daquela terra seriam cananeus e o território antes de ser ocupado por esse povo sofreu um cataclismo (ou seja, uma derrubada, extinção do povo que morava ali) por tanto, quanto os cananeus chegaram essa terra era paradisíaca. Essa terra ficava na parte inferior perto do Mar Morto.
No mesmo livro é dito no texto que “eram maus os homens de Sodoma e grande pecadores contra o Senhor”, mas mesmo assim não impediu que houvesse uma tolerância em relação a Abraão e seu sobrinho Ló.
Dois anjos de Deus, materializados em forma humana, teriam dito a Abraão que "o clamor de Sodoma e Gomorra se tem multiplicado, e porquanto o seu pecado se tem agravado muito." Abraão intercede três vezes pelo povo e recebe como resposta final que "Se houver em Sodoma 10 pessoas justas, não será destruída.”
Qual era o pecado grave do Sodomitas?
Esses dois anjos entram na cidade de Sodoma e Gomorra (que fica numa região desértica) para pedir abrigo e proteção. Ló com piedade desses viajantes os recebe em casa, porém sem saber que são anjos. Antes de se deitarem, os habitantes da cidade descontentes com o fato de Ló, sendo um homem de fora, ter trazido dois viajantes sem o consentimento do povo, cercaram sua casa desde o mais novo até o mais velho, todos numa só turba (multidão em desordem) exigindo que Ló trouxesse os visitantes até lá fora para que pudessem ser estuprados, o que era uma prática freqüente na Antigüidade, quando prisioneiros, guerreiros, ou exércitos vencidos eram comumente violentados sexualmente como forma de desonra, humilhação ou castigo. Ló roga para que os homens não fizessem esse mal ao seus visitantes, mas a turba, ainda mais irada com ele, o ataca dizendo que faria, então, a Ló ainda mais maldades do que com os visitantes. . O texto então termina afirmando que os anjos protegeram, ao fim, a Ló e a sua família e, em seguida, toda a cidade teria sido destruída por Deus com fogo e enxofre.
Muitos teólogos e acadêmicos que afirmam que essa passagem do livro de Gênesis não se refere à homossexualidade, mas ao abuso, ao desamor e a falta de piedade. A Bíblia Anotada New Oxford afirma: “...a questão principal aqui é a hospitalidade aos visitantes divinos. Nesta passagem a sacralidade da hospitalidade é ameaçada pelos homens da cidade que queriam violentar os hóspedes. Apesar da implícita (e óbvia) desaprovação ao abuso homossexual nesta passagem, o ponto principal desta passagem parece ser a ameaça que os habitantes representam ao valor da hospitalidade. Esta é tão valorizada neste contexto, a ponto de neutralizar a negatividade da atitude de Ló ao oferecer suas filhas em lugar de seus hóspedes o que, hoje, seria uma atitude impensável e repugnante à qualquer leitor". Segundo hermenêutas (pessoas que estudam textos) a história de Sodoma e Gomorra faz uma alusão profética à vinda de Cristo que, assim como os anjos, é o enviado de Deus à terra e seria acolhido pelos homens justos, mas também seria recebido cruelmente pelos homens sem piedade e maus que humilhariam e atacariam seu corpo, mas, ao fim, sua glória e justiça prevaleceriam.
Porém o entendimento leigo comum dessa passagem é que Sodoma e Gomorra teriam de fato sido destruídas porque os habitantes dessas cidades seriam todos homossexuais. Essa concepção popular nada mais do que fruto da filosofia de São Tomás de Aquino que na idade média usou pela primeira vez “sodomia” para se referir ao sexo entre homens. São Tomás inclui a homossexualidade entre os pecados contra naturam, junto com a masturbação e a relação sexual com animais. Para Tomás esses pecados sexuais são mais graves do que os pecados secundum naturam, embora estes se oponham gravemente à ordem da caridade, por exemplo: adultério, violação, sedução. Isto porque, para Aquino, a ordem natural foi fixada por Deus e sua violação constitui uma ofensa ao Criador, o que seria para ele mais grave do que uma ofensa feita ao próximo. Santo Tomás de Aquino chega a colocar a prática da homossexualidade no mesmo plano de pecados torpíssimos, como o de canibalismo.A partir desse momento, devido a enorme influência dos pensamentos tomistas ( de São Tomás) no cristianismo a palavra "sodomia" popularmente foi-se desvinculando de seu sentido original da época e passou a ser, em quase todo mundo, conotativa de homogenitalidade, sexo anal, seja homo ou hétero. Muitos religiosos da Teologia Inclusiva salientam, porém, que este entendimento seria homofóbico e conflitante com a própria Bíblia que em todas as vezes que se refere novamente a Sodoma e Gomorra e as seus pecados (como em Ezequiel 16:49-50) não mencionaria nada referente à homossexualidade - e mesmo a única menção à questão da sexualidade nessas cidades (Judas 6-7), somente se condena a intenção de intercurso sexual entre seres humanos e anjos, conforme também se fez em Gênesis 6: 1-2,4.

Um comentário:

Anônimo disse...

li seu artigo, achei muito interessante. eu já conhecia ( pensei ser o único q sabia disso)
infelizmente os leitores da bíblia, evangélicos ainda não perceberam, santa ignorância!
bom artigo.